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Foto do escritorMirna Lomanto

Brasil Amarelo: a fome e o governo de Bolsonaro

Por Ellen Chaves e Marcelly Ribeiro

Quando Bolsonaro assumiu, em 2018, cerca de 10 milhões de pessoas estavam passando fome. Em 2022, esse número saltou para 33,1 milhões, ocorrendo um aumento de 230%. - Chokito/Divulgação


Brasil: um país de belezas naturais, rico em cultura, repleto de pontos turísticos famosos, símbolo de alegria, terra adorada. Dos filhos deste solo, mãe gentil. Abençoado por localização e extensão territorial favoráveis à agricultura, o Brasil tem sido tudo, menos gentil com os filhos da terra. Com o número de famintos aumentando e o desmonte das políticas de fomento à agricultura familiar, às vésperas da eleição presidencial, qual o legado do Presidente Jair Bolsonaro no combate à fome?

A fome é algo histórico e estrutural do Brasil, antecedendo a crise da Covid-19. Quando Bolsonaro assumiu, em 2018, cerca de 10 milhões de pessoas estavam passando fome. Em 2022, esse número saltou para 33,1 milhões, ocorrendo um aumento de 230%. Os números – que se tratam de pessoas – possuem causa direta na má administração do governo durante a crise sanitária da Covid-19, no desmonte de políticas públicas de combate à fome e na manutenção da concentração de renda. Por exemplo, o governo Bolsonaro propôs cortes de 95% até 97% no orçamento do Programa Alimenta Brasil (PAB), antigo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para o ano de 2023. O PAB é uma das principais políticas de fortalecimento da agricultura familiar e de combate à fome. O programa é responsável pela compra de alimentos produzidos pelos pequenos agricultores e pela distribuição destes para os necessitados. Essa medida do governo é só a ponta do iceberg. Nos últimos anos, Bolsonaro tem se demonstrado incapaz de reconhecer que a fome é um problema no nosso país, negando em diversas ocasiões a sua existência. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira” discursou o presidente em 2019. Bolsonaro tratou a pandemia como algo ínfimo, como uma gripezinha, debochou dos doentes. Tratou com o descaso que trata a fome, deixou os agricultores familiares desamparados, deixou os filhos dessa terra desassistidos. Quatro anos depois, segue no discurso. “Não tem gente pedindo para comprar um pão (...) Não existe da forma como é falado”, negando novamente a existência da fome em agosto de 2022. O Brasil, uma pátria amada, com capacidade para alimentar todos os seus filhos, torna-se o pai ausente, a sombra de um país que um dia sonhou ser uma mãe gentil. O país volta ao Mapa da Fome e com os piores índices de insegurança alimentar desde a década de 1990. Em sua campanha eleitoral para as eleições de 2018, Jair Bolsonaro exacerbou o nacionalismo. Utilizou as cores da nossa bandeira e do nosso hino nacional como seu símbolo, e o verde, o azul e o amarelo tornaram-se partidários e não nacionais. O verde da bandeira brasileira, originalmente símbolo de abundância de florestas e a vasta vegetação encontrada em nosso território, tornou-se a desertificação e a erosão dos solos. Durante o governo de Bolsonaro houve um crescimento recorde do desmatamento e das queimadas na Floresta Amazônica. O azul dos céus e rios, ficaram marcados pelas mentiras do presidente na Cúpula do Clima, “Determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais. Duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização” disse o presidente, quando na verdade os órgãos de proteção ambiental sofreram com cortes de verba. A promessa de Bolsonaro para reduzir em 50% suas emissões de gases poluentes é vazia. Durante seu governo não foi tomada uma única medida capaz de favorecer essa meta através da diminuição dos desmatamentos e queimadas, como dito pelo presidente. Em 1960, Carolina Maria de Jesus escreveu: "Eu sou negra, a fome é amarela e dói muito". Essa frase voltou a ser atual durante o governo bolsonarista, marcado por um Brasil desigual com altas taxas de inflação, miséria e pobreza. A cor que deveria representar nosso ouro e riquezas é na verdade amarela. Amarela como a cor da bile quando as pessoas de estômago vazio vomitam. São pessoas que têm um encontro diário com a fome, com o som da barriga vazia, veem o mundo através de olhos embaçados pela tontura e fraqueza. O legado de Bolsonaro é um Brasil amarelo de fome.

O caminho para a reestruturação do país é longo. 2022, além de ano de eleição, é ano de Copa do Mundo, de união. Nessa Copa será difícil entoar nosso hino como uma verdade... então que seja um sonho intenso, um canto de amor e esperança de um Brasil melhor. Que nos próximos quatro anos o “Se o penhor dessa igualdade”, realmente signifique a garantia de igualdade, e que o país volte a sonhar em ser a mãe gentil dos brasileiros e brasileiras. E que possamos nos orgulhar da nossa bandeira, que o verde possa significar terra ao povo que precisa, o fim do desmatamento e destruição de nossas paisagens. Que o amarelo possa caracterizar a volta das riquezas para aqueles que mais necessitam, por meio da diminuição da miséria e da fome. Que o azul e o branco representem um país que luta pelos rios e que se preocupa com as mudanças climáticas. O povo brasileiro quer paz. O povo brasileiro não foge à luta. E o povo brasileiro certamente irá cobrar do próximo governo, seja qual ele for, que a bandeira e o hino nacionais sirvam à nação.



Ellen Chaves

Marcelly Ribeiro


Graduandas de Relações Internacionais na Universidade Federal da Paraíba. Membros

do Grupo de Estudo e Pesquisa FOMERI sobre Fome e Relações Internacionais (fomeri.org).

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