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Fórum Social Mundial 2018 – “Resistir é Criar, Resistir é Transformar”, por Iale Pereira

Entre os dias 13 a 17 de março, a 13ª edição do Fórum Social Mundial 2018 sacudiu a capital baiana. Nascido em 2001 por organizações e movimentos sociais que se auto-convocaram e mobilizaram um grande encontro em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial nasceu em protesto ao movimento neoliberal representado pelo Fórum Econômico Mundial, que ocorria ao mesmo tempo em Davos, na Suíça. Depois de realizar suas primeiras edições na capital gaúcha, o FSM percorreu o mundo em edições temáticas, regionais e continentais em Mumbai, Caracas, Karashi, Bamako, Nairobi, Belém, Dacar, Tunis e Montreal. Após nove anos, o FSM voltou ao Brasil na retaguarda de anos promovendo intensos debates sobre o futuro dos movimentos de resistência contra o avanço das forças neoliberais ao redor do mundo e, pela primeira, teve sua edição no Nordeste. O Fórum Social Mundial é um espaço, não governamental e não partidário, de dimensões internacionais, aberto ao pluralismo e à diversidade de engajamentos, que tem como objetivo promover um encontro de entidades, redes e movimentos da sociedade civil mundial que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.  O evento propõe uma contraposição ao processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais, apoiados por governos nacionais e instituições internacionais, a serviço de seus interesses, visando o prevalecimento de uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais e o meio ambiente. Desse modo, o Fórum constitui-se como um espaço de articulação diversificado que estimula a discussão democrática de ideias; o fortalecimento e criação de articulações nacionais e internacionais; o aprofundamento da reflexão sobre os mecanismos e instrumentos da dominação do capital; a formulação de propostas sobre os meios e ações de resistência e superação dessa dominação; a troca livre de experiências e a articulação para ações eficazes; e as alternativas propostas para resolver os problemas de exclusão e desigualdade social, criados pelo processo de globalização capitalista, com suas dimensões racistas, sexistas e destruidoras do meio ambiente. Em Salvador, no dia 13 de março de 2018, o Fórum começou pela manhã com uma grande movimentação para o credenciamento dos participantes no Campus Ondina da Universidade Federal da Bahia. Com o tema “Povos, territórios e movimentos em resistência” e o slogan “Resistir é criar, resistir é transformar”, o Pavilhão de Aulas da UFBA era uma grande mistura de sotaques e aparências. Ainda pela manhã, integrantes do Coletivo Brasileiro do Fórum Social Mundial 2018 e do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial realizaram uma coletiva de imprensa. Mais de 120 países estavam representados no evento e mais de 1.500 coletivos foram inscritos, além de organizações e entidades. Pela tarde, a Marcha de Abertura saiu da praça Dois de Julho, no Campo Grande até a praça Castro Alves, reunindo organizações e movimentos de todo o mundo e abrindo, oficialmente, as atividades do Fórum Social Mundial 2018. No dia 14 de março, o evento se seguiu com atividades simultâneas nos diversos campus da UFBA, assim como em outros locais da capital baiana, como o Parque do Abaeté e de Pituaçu, a Universidade Estadual da Bahia, e nas periferias, onde estão sediadas as associações, sindicatos, e os prédios públicos da cidade. As atividades do Fórum giraram em torno de 19 eixos temáticos, sendo eles: Ancestralidade, Terra e Territorialidade; Comunicação, Tecnologias e Mídias livres; Culturas de Resistências; Democracias; Democratização da Economia; Desenvolvimento, Justiça Social e Ambiental; Direito à Cidade; Direitos Humanos; Educação e Ciência, para Emancipação e Soberania dos Povos; Feminismos e Luta das Mulheres; Futuro do FSM; LGBTQI+ e Diversidade de Gênero; Lutas Anticoloniais; Migrações; Mundo do Trabalho; Paz e Solidariedade; Povos Indígenas; Um Mundo sem Racismo, Intolerância e Xenofobia; e Vidas Negras Importam. No segundo dia, assim como nos subsequentes, a programação diária estava dividida em torno da realização de Atividades de Convergências, realizadas geralmente no período da manhã, com o intuito de ampliar a resistência de organizações e movimentos que englobassem pelo menos três causas e com a participação de lideranças de pelo menos 3 países; de  Atividades Autogestionadas, que tratavam-se de oficinas, seminários, conferências, debates, apresentações culturais, rodas de diálogos, etc., realizadas sob responsabilidade de coletivos, organizações e/ou entidades; e, por fim, de Atividades Político-culturais. Entre as atividades de maior destaque, no dia 14 foram realizados o Tribunal Popular para Julgamento dos Crimes de Feminicídio contra as Mulheres Negras e a Assembleia Mundial da Juventude. Já no dia 15 de março, a morte de Marielle Franco, que ocorreu na noite do dia anterior, transformou os eventos seguintes em um grande ato pela memória da vereadora. Em marcha, cerca de cinco mil participantes do FSM saíram às ruas para protestar contra sua execução e o genocídio da população negra. Dentre as atividades, o ponto alto foi a Assembleia Mundial em Defesa da Democracia, iniciada com homenagens a Marielle e a Anderson Gomes. O evento contou com a presença dos ex-presidentes Lula, Dilma, Lugo (Paraguai), Mujica (Uruguai), Manuel Zelaya (Honduras), o deputado francês Eric Coquerel (Parti de Gauche), Makota Celinha (Centro Nacional de africanidade e resistência afro-brasileira), a deputada e pré-candidata à presidência pelo PC do B, Manuela D’ávila, o governador da Bahia Rui Costa, as senadoras Lídice da Matta (PSB) e Gleisi Hoffman (PT), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, a presidente da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), Lorena Peña, o filósofo do Congo Godefroid Ka Mana Kangudie, dentre outras lideranças. No quarto dia do Fórum, logo pela manhã, a Assembleia Mundial de Mulheres convocou as mulheres presentes no Fórum para dedicar um momento à ampliação da visibilidade e força das lutas dos movimentos femininos, reconhecendo a urgência da defesa aos direitos das mulheres no mundo. Nenhuma outra atividade do evento foi inscrita no mesmo horário com o intuito de possibilitar a presença de todas, e os protestos em memória à Marielle Franco prosseguiram. Outro evento de destaque do dia 16 foi a Assembleia Mundial dos Povos, Movimentos e Territórios em Resistência, tendo como objetivo agregar esforços às agendas de lutas e ações globais por melhores condições de vida no mundo. Por fim, na noite do mesmo dia, houve o Ato Político-cultural Rumo ao FAMA com o objetivo de ampliar a visibilidade do Fórum Alternativo Mundial da Água, realizado em Brasília após o FSM. O último dia do evento foi marcado pela realização da Ágora dos Futuros, um espaço dedicado à construção e alianças e fortalecimento de resistências, onde as propostas de incidência pós-Fórum foram compartilhadas por meio de rodas de diálogo, cartazes, manifestações artísticas, etc. Por fim, às 12h, ocorreu o Cortejo Cultural que simbolizou o encerramento do Fórum Social Mundial 2018 com manifestações culturais de todo o mundo. Como minha primeira experiência no Fórum, percebi logo de cara, e também com certa estranheza, a forma como as coisas estavam sendo organizadas. No cadastramento esperei receber uma agenda com as atividades e suas devidas localizações, mas, para minha completa surpresa, não havia nenhum mapa e a programação só foi liberada online no decorrer do primeiro dia. O funcionamento do evento em si, espalhado pela cidade, foi um grande desafio e fui logo sentindo a dificuldade em encontrar os locais onde estavam sendo realizadas as ações. Nas atividades que estavam sendo realizadas dentro do campus Ondina da UFBA, era quase impossível conseguir as informações necessárias para se chegar aos locais: algumas placas que foram espalhadas indicavam o caminho errado e o comitê organizador parecia mais desinformado que os próprios participantes. Fora dele, ao redor da cidade, dependíamos inteiramente da internet para descobrir como chegar aos locais combinados.  Uma das mesas das quais decidi participar, “A Crise Capitalista e o Sistema da Dívida na América Latina e Caribe”, que fora, de acordo com o próprio evento, organizada pela Auditoria Cidadã da Dívida, nem chegou a existir. Quando cheguei no local o pessoal da organização informou que os palestrantes da mesa nem sequer haviam aparecido. Também não encontrei nenhuma atividade no lugar onde estava sinalizado o banner da tenda da “Democratização da Economia”, onde, pela lógica, deveriam ocorrer tais debates que me interessavam. Como de praxe, ninguém do comitê conseguia me informar sobre nada. Por sorte, em vários momentos, encontrei alunos da UFBA que nada tinham com a organização do evento, mas que estavam ajudando os participantes a encontrarem os devidos locais. O evento me marcou em relação à forma de organização das Esquerdas. A maioria das atividades do Fórum funcionaram com o esforço de cada entidade, rede e movimento da sociedade que foi capaz de se organizar por conta própria e propor sua própria agenda. Ao mesmo tempo, comecei a perceber que parecia ser um pouco ingênuo esperar que o FSM fosse um evento organizado tão quanto um acadêmico, uma vez que este tem como proposta ser um movimento amplo e progressista, acolhedor de ações nacionais e internacionais. Apesar de me sentir perdida num primeiro momento, logo soube aproveitar a paisagem anárquica. Foi fantástico ver a quantidade de gente reunida que compartilhava dos mesmos ideais e que falava tantos idiomas diferentes. Com um pouco de disposição e otimismo fui capaz de entender sua dinâmica e penetrar no fluxo coletivo em busca de novo futuro. Hoje me sinto profundamente agradecida por ter tido a oportunidade de participar Fórum Social Mundial 2018 em Salvador e por ter me tornado mais próxima às lutas globais que defendem o direito de existir das maiorias, e que assim nos humanizam. Informações e dados retirados do site oficial do Fórum Social mundial <https://wsf2018.org/>. Acesso em 27 de março de 2018. Iale Pereira Graduanda do curso de RI da UFPB. Integrante do FomeRI. 27 de março de 2018.

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