A maior economia do mundo abrange apenas 4% da população mundial, no entanto possui cerca de 20% dos óbitos provocados pela COVID-19. A pandemia também provocou uma queda significativa (de 3,5%) no PIB norte-americano, levou mais de 25 milhões ao desemprego e gerou filas quilométricas de famintos aos bancos de alimentos nos Estados Unidos. Resultados negativos semelhantes a esses foram enfrentados em várias economias pelo mundo, inclusive por aquelas com menos recursos do que a estadunidense. Mesmo em meio à riqueza dos cofres públicos, a administração Trump se mostrou falha e negligente em muitos momentos durante a pandemia, potencializando o desequilíbrio em todo o sistema de saúde, econômico e agroalimentar. Joe Biden, novo presidente da grande potência, assume o país com sérios desafios a serem superados nos próximos quatro anos.
A todo momento, o presidente afirma que o país está em crise e que as medidas para salvá-lo precisam ser ambiciosas. Por isso, as primeiras semanas no cargo já começaram com um único objetivo: controle de danos. Assinou cerca de 30 decretos executivos direcionados, principalmente, às famílias com insegurança alimentar, aos desempregados, às pessoas com risco de serem despejadas e aos estudantes.
Medidas essenciais, porém consideradas insuficientes devido à gravidade dos danos causados durante a pandemia. Somado a esses decretos, foi apresentado um pacote de estímulos mais ousado. Aprovado pelo Congresso, Biden ratificou o projeto de lei em 11 de março. Apesar dessa vitória, o pacote econômico de alívio à Covid-19 no valor de 1,9 trilhão de dólares recebeu muita resistência dos republicanos.
Um dos principais focos das ações de Biden engloba as pessoas que foram atingidas pela falta de alimentos. A insegurança alimentar nos Estados Unidos afetou mais de 50 milhões de indivíduos, incluindo 17 milhões de crianças. Representam, assim, um aumento de quase 50% em relação ao ano de 2019. E, como herança dos conflitos étnicos e raciais, as famílias negras, latinas e nativas foram impactadas de forma desigual.
O principal programa de ajuda alimentar do país é o SNAP (Programa de Assistência à Nutrição Suplementar). Antes denominado como vale-refeição (Food Stamp), é uma rede de seguridade que certifica que a população beneficiada tenha recursos para comprar alimentos em vários supermercados no país.
O programa foi ampliado em 15% ainda na antiga administração, mesmo com os esforços contrários de Trump, que não acreditava na eficácia do SNAP para a promoção da segurança alimentar. No entanto, nenhuma alteração ocorreu para as pessoas que já recebiam o valor máximo.
Por isso, Biden quer manter o benefício ampliado até setembro de 2021 e incluir o acréscimo mensal ao grupo que antes foi negligenciado. Do total de cerca de 45 milhões de pessoas que receberam o SNAP no ano passado, 12 milhões se enquadram nesse aumento. Logo, as famílias mais vulneráveis podem ter uma adição de até 20% no valor recebido semanalmente.
Além disso, devido ao fechamento das creches e escolas, as famílias com crianças também receberam auxílio. Cada criança recebia 5,86 dólares por dia, valor equivalente às refeições gratuitas perdidas durante a quarentena. Outra ordem também aumentará em 15% esse benefício para as famílias com três pessoas, as quais irão receber 100 dólares extras a cada dois meses. Os decretos executivos também evitam execuções hipotecárias e despejos, e favorecem alunos por meio da suspensão do pagamento de empréstimos estudantis por alguns meses.
A situação dos desempregados é uma das mais preocupantes. Biden chegou ao poder com o pior mercado de emprego de todos os presidentes da história recente do país. Milhões de pessoas solicitaram seguro-desemprego e esse número apenas cresceu ao longo dos últimos meses. O plano vai oferecer 1.400 dólares em pagamentos diretos para os cidadãos que recebem até 75.000 dólares anuais, além de garantir o pagamento extra de 300 dólares semanais do seguro-desemprego até setembro.
O pacote também pretende investir 130 bilhões de dólares nas escolas de ensino fundamental e médio para proteger os alunos na abertura gradual das instituições. Da mesma forma, pequenas empresas e restaurantes vão receber um auxílio para se reerguer: 50 bilhões e 25 bilhões de dólares, respectivamente.
O presidente acredita que os Estados Unidos estão enfrentando quatro crises. Citando-as durante sua campanha presidencial, as crises são: a pandemia, o declínio econômico, a questão racial e as mudanças climáticas. As atitudes de Biden, durante os primeiros meses, foram para evitar o crescimento dos problemas causados pela COVID-19. No entanto, é visível que as economias só poderão se reerguer novamente após a vacinação em massa.
Por isso, Biden afirma que a situação tem que ser administrada baseada em ciência, não em política. Indo na contramão de Trump, o país não irá sair da OMS (Organização Mundial da Saúde) e voltará a financiar a instituição. Assim, os esforços para a vacinação seguem dentro do esperado: nas primeiras semanas de março, cerca de 2 milhões de estadunidenses foram vacinados por dia e mais de 100 milhões de doses já foram aplicadas.
As ações feitas até agora foram um começo, mas longe de ser o suficiente para solucionar as crises enfrentadas na potência norte-americana. A mudança de governo nos Estados Unidos parece estar sendo importante para diminuir o sofrimento de trabalhadores e trabalhadoras, de desempregados e desempregadas, e de seus dependentes. Que isso seja uma mensagem para outros povos também.
Por Ellen Maria Oliveira Chaves. Integrante do Grupo de Pesquisa sobre Fome e Relações Internacionais (fomeri.org) da UFPB.
Publicado originalmente em Brasil de Fato - PB em 19 de março de 2021
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